A primeira vez em que escrevi sobre a bióloga Fernanda Abra, foi para contar, aqui no Conexão Planeta, que ela havia sido reconhecida pelo Future for Nature Awards, um dos prêmios de meio ambiente mais importantes do mundo, por seu trabalho para reduzir atropelamentos e mortes de espécies de mamíferos brasileiros nas rodovias
Agora, cinco anos depois, ela está entre os cinco vencedores da edição 2024 do , concedido há 30 anos pela organização britânica e considerado como o “” (saiba quem são os outros eleitos no final deste post).
Fernanda dedica sua vida a buscar e implementar soluções para que cortam osbrasileiros.

Foto: Adriano Gambarini/
Pós-doutoranda pelo , nos Estados Unidos, é pesquisadora associada do e professora da , escola do Instituto, e colabora com projetos da instituição com o mesmo foco: proteger a fauna silvestre do impacto das rodovias.

Foto: Adriano Gambarini/Smithsonian´s National Zoo and Conservation Biology Institute
Com este prêmio, Fernanda é reconhecida pelo trabalho pioneiro que desenvolve com o , que visa [para a fauna] por meio de (foto de destaque) – até agora, são 30! – sobre a , uma das que cortam a entre os estados do Amazonas e Roraima: liga Manaus à Boa Vista. Ao mesmo tempo, o projeto monitora (macacos).
Apenas em 2022, as pontes artificiais foram usadas por , incluindo o sagui-de-mão-dourada, importante símbolo cultural do povo Waimiri-Atroari, que participa ativamente como parceiro do projeto.
“Para mim, trabalhar com conservação de espécies sempre teve muito a ver com adequar o ambiente das rodovias, para que fossem menos impactantes para a fauna. Dediquei minha carreira entendendo como reduzir esse impacto para animais terrestres, e esse é um assunto complexo”, conta ela.
“Quando pude ampliar meus estudos, decidi fazer isso com animais que usam árvores para se locomover e passei a realizar esse projeto, criando . No Projeto Reconecta, uni a a um , criando e monitorando para entender se as pontes reduzem o para algumas espécies e, também, se reduzem a barreira imposta pela rodovia para conectividade florestal”, acrescenta.

Fernanda Abra com uma das pontes, que consiste em cabos de aço, cordas e redes de nylon
Foto: Smithsonian´s National Zoo and Conservation Biology Institute
O projeto de Fernanda, reconhecido pelo prova que os animais estão, realmente, se beneficiando dessas , que é um modelo barato e pode ser replicado em outras áreas da Amazônia e biomas florestados do Brasil.
A bióloga já tem planos de, ainda em 2024, construir passagens para o , junto ao IPÊ (a pesquisadora à frente do projeto de conservação dessa espécie, Gabriela Rezende, foi eleita uma das 11 mulheres pioneiras da conservação mundial pelo Disney Conservation Fund, como contamos aqui).
“Fiquei muito honrada com esse prêmio! Primeiro, porque vou poder ampliar as ações na Amazônia e, segundo, porque pude contar com apoiadores super comprometidos, como o povo indígena Waimiri-Atroari, o IBAMA, o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte), o Instituto IPÊ, a UFAM (Universidade Federal do Amazonas) e a Smithsonian Institution. Precisamos de mais instituições e órgãos interessados em criar modelos de ”, destaca.
Hoje, Fernanda Abra e outros quatro pesquisadores recebem o Prêmio Whitley das mãos da Princesa Anne, em cerimônia na Royal Geographical Society. O evento foi transmitido ao vivo pelo YouTube do prêmio, a partir das 16h, no horário de Brasília (ficou gravado), e ainda celebrou os 30 anos do prêmio e os 25 anos de envolvimento de Anne como patrona.
Ao anunciar os vencedores, o Fundo revelou que , embaixador da WFN e apoiador de longa data da instituição, disse que a crescente representa alguns dos . “Os vencedores do Prêmio Whitley combinam o conhecimento de como responder a crises, mas também trazem consigo comunidades e públicos mais amplos”.
O Brasil é o país mais biodiverso do mundo em espécies de fauna, mas devido à e aos , sendo estas as principais ameaças que enfrentam.

Foto: Adriano Gambarini/Smithsonian´s National Zoo and Conservation Biology Institute
O país já possui a e boa parte das rodovias atravessa ambientes naturais. Mas o governo federal quer mais! No ano passado, anunciou programa de gastos de para impulsionar a infraestrutura, que inclui a .
Além disso, em pesquisa encaminhada por Fernanda Abra, somente no Estado de São Paulo, a estimativa é de que, em média, .
Um cenário absurdo que torna o Projeto Reconecta essencial em todos os biomas.
Segundo Fernanda, a chave para o sucesso do Projeto Reconecta foi conquistar o apoio do povo indígena Waimiri-Atroari, que vive em , num território considerado um dos mais bem preservados da Amazônia, mas cortado pela rodovia federal BR-174 desde a década de 70, época da ditadura militar.
“O povo Waimiri-Atroari é o coração do projeto. Eles sabem tudo sobre a vida silvestre local. Eles conhecem a ecologia dos animais. Eles conhecem os padrões temporais e espaciais. E isso foi fundamental para nós estabelecermos o projeto Reconecta aqui.”
A construção da rodovia desencadeou aumento do desmatamento ilegal, sendo mortal para vida selvagem, e resultou no caso mais grave de da história do Brasil, segundo a ONU.
Quando, em 2022, Fernanda e sua equipe surgiram com a proposta de construir 30 pontes artificiais nas copas das árvores para restaurar a conectividade da floresta para a vida selvagem, mais de 150 indígenas Waimiri-Atroari participaram do projeto ao longo de um trecho de 125 km da referida rodovia.
Como contei mais acima, as pontes já foram usadas por oito espécies arbóreas, entre eles o sagui-de-mão-dourada pelo qual este povo tem um apreço especial, que é o usuário mais frequente.
Cada uma delas é monitorada por duas armadilhas fotográficas, que registram os animais se aproximando, atravessando ou evitando as pontes. A equipe registrou 500 travessias bem-sucedidas ao longo de um período de 11 meses, número que eles esperam que aumente à medida que os mamíferos se acostumem às construções, que consistem em cabos de aço, cordas e redes de nylon, e ancoradas por postes de concreto.
Foram utilizados dois designs de pontes: uma horizontal em cruzeta e outra com um único cabo de aço envolto em corda trançada. Ambas são parte de experimento que revelará qual o design preferido por diferentes espécies. Em apenas 30 dias após a instalação, as pontes foram utilizadas por espécies que demostravam sua preferência por um ou outro modelo.
Fernanda conta que, o custo dos materiais utilizados foi, em média de cerca de R$ 10,5 mil por ponte. Agora, com o (leia outras informações mais adiante), ela planeja medir o sucesso das pontes em aumentar a conectividade do habitat para espécies arbóreas e reduzir a mortalidade por atropelamento na BR-174.

Foto: Smithsonian´s National Zoo and Conservation Biology Institute
Também planeja expandir o projeto para , cidade fronteiriça localizada no estado de Mato Grosso, onde podem ser encontradas oito espécies de primatas, cinco delas em perigo especificamente devido à , e colisões nas estradas. São eles: Zogue-zogue-de-Alta-Floresta, Macaco-aranha-preto, Mico-de-Schneider, Bugio-ruivo-de-Spix e Bugio-ruivo-do-Purus.
Sua equipe identificou cinco locais onde as pontes na copa das árvores são imperativas para a reconexão da fauna nessa região. E Fernanda ainda espera garantir o apoio do governo federal para esse trabalho.
Como parte de seu objetivo de , a bióloga conta que também planeja treinar mais de 200 pessoas de órgãos federais de transporte e meio ambiente que trabalham com em nove estados da Amazônia brasileira.
Fernanda também revela quer se reunir com Marina Silva, ministra do Meio Ambiente do Brasil, e Renan Filho, Ministro dos Transportes, para discutir o potencial de expansão do Projeto Reconecta para outras rodovias na Amazônia e em outros biomas florestais pelo Brasil.
Desde que o Prêmio Whitley foi lançado, em 1994, mais de 200 conservacionistas em 80 países foram agraciados pelo Fundo Whitley para a Natureza (WFN), instituição de caridade do Reino Unido que apoia nos países do Sul Global.
Pioneiro, o WFN foi uma das primeiras entidades a direcionar financiamento diretamente para projetos liderados por pesquisadores dos países em que atua. Seu rigoroso processo de candidatura identifica indivíduos inspiradores que combinam .
Os vencedores recebem financiamento, treinamento e visibilidade, incluindo curtas-metragens narrados por Sir David Attenborough, embaixador do WFN.
Agora, conheça os demais vencedores dos Prêmios Whitley de 2024:
– , da Papua Nova Guiné, protege os recifes de coral na Baía de Kimbe e cria uma rede de áreas marinhas protegidas lideradas por mulheres indígenas locais;
– , de Camarões, restaura o habitat do peixe-boi-africano no Lago Ossa, enfrentando ameaças de espécies invasoras e poluição;
– , do Butão, protege o Langur-dourado-de-gees, em perigo de extinção, e implementa soluções para agricultores cujas plantações são alvo dos primatas;
– , da Guiana, lidera a expansão de um dos primeiros movimentos de conservação liderados por indígenas do país para proteger o Pintassilgo-de-bico-vermelho, em perigo; e
– , do Nepal, que está fortalecendo a proteção de corujas no Nepal central depois de liderar um plano de 10 anos apoiado pelo governo para proteger as aves.
E, todos os anos o júri do Prêmio Whitley escolhe um vencedor do ano anterior para receber o , no valor de £100.000 (cerca de R$ 648.100) em reconhecimento à sua contribuição excepcional para a conservação.
Além de integrar o júri, o vencedor do Prêmio Whitley Gold também atua como mentor dos vencedores do Prêmio Whitley e como embaixador internacional do sucesso da conservação.
Fonte: Conexão Planeta